terça-feira, 19 de abril de 2011

Él que no cambia todo, no cambia nada! Alfredo Zitarrosa



Poema do CD Caminhos de Si


Ameríndia

Quando eles vieram tão pouco possuíam
Porém se diziam donos desta terra
Trouxeram a guerra e doenças estranhas
Relegando um povo à dor e à miséria

Roubaram das matas a verde alegria
Quebrando a harmonia milenar deste chão
Despertaram a erosão que devora a planura
E inventaram na América a palavra extinção

Banharam de sangue os rios, antes puros
Levantando seus muros, cidades, prisões
Mataram milhões evocando a um Deus
Condenando uma raça a não ter mais futuro

Mas será que não somos mais índios que brancos?
Mas será que esta América não é mesmo Índia?

Quando eles vieram com seus armamentos
Já não houve mais tempo para a ingenuidade
Sobrou só a falsidade na jura dos reis
E na (in) justiça das leis só desigualdade

Hoje as tintas de guerra já não pintam guerreiros
Mas tão só prisioneiros que em reservas mal vistas
Margeiam autopistas vendendo lembranças
Adornos e enfeites para o lar dos turistas

Já não mais se escuta nas florestas e campos
A pureza dos cantos de mil tribos libertas
Mas talvez ainda ecoe nos acordes do vento
O terrível lamento de uma terra deserta!

Mas será que não somos mais índios que brancos?
Mas será que esta América não é mesmo Índia?



                                        Martim César